Faxina.

por Misha Gibson, que trabalhou bastante no feriado

171 Todo Dia

Terça, 20 De Junho De 2017 ás 06:00

A casa dos meus pais ç estão em reforma. Depois de 20 anos, a casa recebe a primeira re-pintura interna. E a gente, que nunca parou por tanto tempo em uma única casa, se viu refém de um trabalho que não acaba nunca: Tira as coisas do lugar, arrasta os móveis, espera secar, põe os móveis no lugar, limpa, varre, passa pano. E recomeça tudo de novo. E limpa mais uma vez.

No meio do tirar e colocar os móveis no lugar vão aparecendo aquelas coisas guardadas há mais tempo do que você pode lembrar. Uns livros, umas roupas, uns cds, uns brinquedos, uns enfeites e umas coisas que nem podem ser classificadas em nada: papéis, escritos, chaves perdidas, cadeados sem chaves, pecinhas de alguma coisa que um dia fizeram sentido. Como saber se você vai voltar a usar aquilo?

Uma definição interessante do que deve ser descartado é saber se o objeto traz felicidade. Olhe para o objeto, ele te traz felicidade? Mas, qual é o tipo de felicidade que devemos avaliar? Por exemplo: um cd que garimpei e passei tanto tempo almejando, é algo que me trouxe felicidade. Ele me traz felicidade agora? Eu olho o cd e penso que as músicas me trazem alguma felicidade. Mas, em que aparelho de som? Vou votlar a ter um aparelho de som para tocar o cd? Enfim, doei todos os cds. Todos, não, alguns eu até tive a pachorra de guardar. Pelo menos até a próxima faxina...

Não, acho que separar as coisas para doar e/ou jogar fora vai além da felicidade. Não adianta trazer felicidade se a felicidade é dependente de alguma coisa. Você vai guardar uma peça de roupa que não usa mais (e nem pretende mais usar) porque ela te trouxe felicidade? Não sei, acho que sou pouco sentimentalista neste aspecto.

Por outro lado, guardei uma roupinha de quando o pequeno tinha 2 anos. Não é porque ele vai usar, nem porque pretendo ter outro filho (mesmo se pretendesse, a roupa tem o nome do pequeno, então não seria usada por outra pessoa). Eu guardei porque sim. Porque é uma lembrança feliz, porque pretendo mostrar ao pequeno - de novo - quando ele for mais velho. Porque é engraçado pensar que um dia ele coube naquela roupinha.

O pequeno também ganhou brinquedos de quando o meu irmão tinha um pouco mais idade que ele agora. E, incrivelmente, meu irmão ainda tem ciúmes de alguns destes brinquedos. Não desautorizou o pequeno, mas não é que tenha dado permissão de ele usar. Que coisa!

Guardei de volta uns lápis e papéis de carta de quando era pequena. Mas, não é exatamente porque eles me trazem felicidade, não. É porque eu pretendo usá-los quando precisar deles. Por que jogar fora ou doar se eles podem ser úteis para mim ainda?

Nesta arrumação a gente redescobriu muitas coisas em casa. E também entendeu que guardou muita coisa para o futuro, que nunca chegou e que até perdeu o timing. Entendeu que a vida não espera e não te lembra. E que precisa abrir as caixas do passado com mais frequência.

A faxina forçada ocasionada pela reforma tirou muita coisa que não serve mais. A gente fez muitas pessoas felizes com as coisas que não usa mais e que estavam em bom estado. E jogou muita coisa fora também. A casa ainda não está pronta, nem a faxina acabou por completo. Mas, o frescor inerente de ter aberto as portas e gavetas - e as caixas - já pode ser sentido em muitos cantinhos. Já posso até dizer que me sinto mais leve.


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