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Eu tinha um poeminha pronto hoje a respeito de arte e de como algumas pessoas processam e se expressam por ela. Eu ia falar sobre como a arte pode não ser compreendida, mas realizada de qualquer forma. Eu ia dizer que as vezes eu processo minhas palavras como alguém pode esculpir suas obras. Já estava pronto, já tinha relido e editado. E, por um ínfimo átimo de segundo, minha decisão perfeita foi revogada. Não quero mais falar sobre nada disso.

Quero falar sobre o tempo, quero falar sobre as grandes represas dê emoções e sentimentos que existem andando por aí, sem que ninguém perceba direito. Como todo mundo, eu tenho um primeiro amor. Aquele para quem eu sempre olho com saudade, com admiração e quiçá certa devoção. Sempre comparo os meus amores subsequentes com ele, sempre almejo que um dia eu volte a sentir o mesmo frissom daquilo tudo. E fico guardando esse amor, que eu amo mais do que essa pessoa tão especial.

Aí, eu descobri que eu tenho mais algumas caixinhas em mim com o nome de outras pessoas especiais. Amores platônicos, homens admiráveis, paixões mal-resolvidas e também amigos de longa data, pessoas que me ensinaram e educaram e mostraram como é importante ser grato. E tome mais represa de amor!

E é nas coisinhas mais pequenas que se nota a quantidade de amor represado: alguém que separa para você as balinhas do sabor que você mais ama do pacote sortido, um presentinho inesperado de agosto, um bilhetinho escrito à mão, um abraço apertado quando tudo parece ruir, uma música selecionada a dedo só para você. Pode ser um grilo falante quando você precisa de consciência extra. Pode ser uma piadinha para te fazer rir naquele momento de tensão. Pode ser o alívio de um trabalho que você não consegue dar andamento. Pode ser apenas um olhar afetuoso. Pode ser aquele momento em que o seu irmão te diz: vai passar, fofucha. É tudo amor represado.

É tudo aquilo o que poderia ser em forma de atenção, de cuidado. E, mesmo que a vida tenha andado, mesmo que não seja nada romântico, mesmo que seja o seu irmão te dando a mão na fila do cinema cheio de casais, é amor. Amor a gente recebe e espera um dia retribuir represa, depressa. Amor a gente envia por sedex, gasta mais com o envio do que com o que tem no pacote. Amor a gente separa no copinho, amor a gente fica esperando a pessoa retornar e dizer como a gente é doido. Amor a gente não represa, a gente expulsa do coração para que ele possa ser de alguém.

Hoje eu descobri que me deram mais amor do que eu retribui. Um amor represado, nunca falado mas sempre demonstrado. Hoje eu descobri que meu amor represado nunca vai ser contestado. Hoje eu descobri que estava na minha cara e eu nunca vi. Hoje eu notei que estava na cara de outras pessoas e elas nunca verão. Hoje eu queria que o amor represado que me enviaram encontrasse o meu amor represado e fossem felizes juntos, perto, junto. Hoje eu descobri que é muito mais simples do que a gente imagina, só basta aceitar no tempo certo e liberar as barreiras das represas.