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Você já sentiu a sede de vingança? Aquela que te faz querer beber o sangue da glória, o frio congelante do estupor? Você já se sentiu tão humilhado, vilipendiado, maltratado, que a resignação não foi suficiente para seguir? Você já teve vontade de ter um dia de fúria meio a la Michael Douglas contra o sistema inteiro?

Atire a primeira pedra se não.

Eu tenho sede de pequenas vinganças. Tão pequenas que as vezes ninguém nota o meu gosto de satisfação, o meu sorriso vampiresco e as luzes negras refletindo o gozo de estar viva para ver. Geralmente a vingança é aquela frase mal-criada para quem me destratou. As vezes é deixar a pessoa que corta o meu coração envergonhada na frente de outras pessoas. As vezes é simplesmente calar quando esperam a minha voz. As vezes é bater o telefone na cara. Uma vez foi devolver um presente que me fazia lembrar uma pessoa que me fazia mal. Resumindo, a maioria das vezes é mostrar a minha ignorância em forma de desdém.

Eu fico me dizendo que é porque eu mereço respeito, que é porque eu não mereço palhaçada, que é porque não podem brincar com a minha (pouca) paciência. Mas, pensando friamente, acho que não é nada disso. Acho que é pura vaidade.

Mas, o lance é que se não fosse o Muay Thai para eu descarregar algumas das minhas frustrações, acho que eu estaria muito (mais) louca. Não que eu esteja sentindo pena de mim mesma... - Acho que a vingança começa com pena de si mesmo, passa pela vaidade e termina em catarse. - Mas eu tenho sentindo essa necessidade de me vingar das coisas com mais frequência ultimamente.

É o trânsito, as respostas mal dadas, a ignorância ou o desrespeito. Eu acho que eu mereço mais. Eu acho que eu devia poder mais. De verdade, eu queria viver em um mundo em que o dinheiro não falasse mais alto. Você pode se enganar e achar que isso não existe mais, que as pessoas não precisam tratar as pessoas sem dinheiro diferentemente das pessoas com dinheiro. Só que isso nunca acontece. Nos mais diferentes níveis isso não acontece. E olha que eu me esforço para me cercar apenas de pessoas que pensem como eu, ou pelo menos que não achem isso importante.

Espera, eu não quero me justificar. O que eu quero mesmo é falar da vingança. Sempre me ensinaram que vingança é uma coisa baixa, uma coisa que não devemos buscar. Me falam que nutrir o mau sentimento adoece, faz mal, nos empobrece a alma. Eu até acredito que a gente deve aprender a se desapegar das coisas que não fazem bem. Note bem, eu disse desapegar do que não te faz bem, então o que é neutro também deveria ser desapegado. Se uma coisa não te faz feliz, não tem porquê manter. Seguindo esta lógica eu me sinto no direito de ter minhas pequenas vinganças quando eu acho que alguma coisa, ou pessoa, me faz muito mal. E nem sempre eu me arrependo.

Acho que o mundo anda muito complicado. Não se pode mais fazer nada errado, o politicamente correto é assumido como verdade só para parecer. Alguém vai me dizer que eu não deveria pensar em me vingar, que reagir a uma má ação é ser tão má quanto. Até parece que ninguém grita vez ou outra para se fazer notar. Acho que não é nada mais do que humano querer ver a sua individualidade preservada, manter o seu ego, acariciar a vaidade. Somos humanos, podemos ter sentimentos bons e maus, o que nos faz melhores é só o que resolvemos fazer do que sentimos. No fundo, o que eu acho que é a melhor vingança e estar mais feliz do que antes.