Os 45 Anos de "Atom Heart Mother"

Por André Floyd

Confraria Floydstock

Domingo, 04 De Outubro De 2015 ás 18:11

Os 45 Anos de "Atom Heart Mother"

Os 45 Anos de "Atom Heart Mother"

O Contexto:

Era início da nova década, a segunda na trajetória do Pink Floyd, ainda corroído pela tragédia mental de Syd Barrett, que deixara um vácuo criativo ainda difícil de ser remediado.
Mas após o estrondoso sucesso do álbum de estréia, "The Piper At Gates Of Dawn", de 1967, com concepção toda barrettiana, aclamado por público e crítica, que já não foram tão generosos assim com os três subsequentes sem Syd, "A Saucerful Of Secrets", de 1968 (este ainda continha a "saideira" de Barrett, "Jugband Blues"), "More", e "Ummagumma", de 1969 (que ainda trazia uma versão ao vivo de "Astronomy Dominée", do álbum de estréia), a banda precisava achar um norteamento para a década vindoura que se iniciava.

O Conceito:

Foi dada a largada para o primeiro passo rumo à libertação da banda da influência barrettiana, mas isso requeria algo ousado e de profundo impacto. Roger Waters teve então de convidar o musicista vanguardista de jazz Ron Geesin, que trabalhara com ele no seu álbum solo "Music From The Body", para ser co-autor da música espinha-dorsal do álbum, "Atom Heart Mother", sobre uma mulher grávida que tivera que colocar um coração artificial. Ideia essa que Nick Mason endossou de pronto, uma vez que Ron já era seu amigo.
A capa tornou a vaca Lullubelle III, uma híbrida, meio holandesa e meio normanda, o bovino mais reconhecido do mundo da música. Ela foi achada numa fazenda no interior da Grâ-Bretanha pelo designer gráfico Storm Thorgerson, que a pedido dos membros do grupo, deveria usar algo simplório que não causasse muito impacto psicodélico, mas deu efeito contrário, pois é até hoje uma das cinco capas mais emblemáticas da carreira do grupo. A contracapa trouxe três outras vacas, dessa vez, puramente holandesas. Mil libras foram pagos ao proprietário pelos direitos de imagem dos animais.
"Atom Heart Mother" então foi lançado no dia 2 de outubro de 1970.
Gravado nos estúdios Abbey Road, foi primeiro lugar no Reino Unido, 55º nos EUA, Disco de Ouro no seu lançamento em CD em 1994.

As Músicas

Lado A:

"Atom Heart Mother" (Gilmour, Mason, Waters, Wright & Geesin)

Vale lembrar que naquele tempo os grupos de rock em geral recebiam duras críticas de jornalistas e músicos de outros estilos, que diziam que rock não era música, era barulho, etc.
Esta linda e longa canção, que costumávamos chamar na época do vinil como "música do lado inteiro do disco" veio contrapor tudo isso. Instrumental, ela foi dividida em seis partes, na concepção de uma suíte, termo usado para denominar uma união de grupo com orquestra. Além de dezenas de músicos tocando instrumentos de sopros e cellos, 20 coralistas foram regidos na faixa pelo maestro John Alldis.
A estrutura melódica principal de "Atom Heart Mother" está na sua abertura e no seu encerramento, conclusão está que se dá de forma crescente com grupo e orquestra formando um turbilhão harmônico-apoteótico. Não há como destacarmos também a beleza imensa do coral por toda sua extensão, as bases de teclado de Richard Wright e um solo embebido em blues de David Gilmour.
"Atom Heart Mother" dura 23 minutos e meio e como supracitado, ocupava todo o lado A do vinil. Isto abriu caminho para outras bandas fazerem o mesmo, tais como Yes, Jethro Tull, Emerson, Lake and Palmer, Triumvirat, Rush, Focus, Iron Butterfly, etc.

Lado B:

Aqui começamos a segunda parte de um dos discos mais democráticos do Pink Floyd além de "Ummagumma", onde Waters, Gilmour e Wright assinam uma canção cada e os quatro membros assinam a música final.

"If" (Waters)

Violão, guitarra, teclado e percussão doces para uma letra neurótica e tensa, o prenúncio do que seria a temática de Roger Waters no futuro, mais precisamente a partir de 1977, no álbum "Animals" e sobretudo na sua ópera-rock "The Wall" e "epitáfio" floydiano "The Final Cut".
O conceito de "se eu enlouquecer, ainda serei aceito?", na época remetia quase que obviamente a Syd Barrrett, porém como dito acima, Waters levou tal perturbação por toda sua obra vindoura.

"Summer 68" (Wright)

Aqui temos a música mais fofa e querida do trabalho. Como o título sugere, trata-se de uma ode ao hedonismo, ao romance fulgaz e superficial, vivido de fato pelo tecladista Richard Wright, que já num segundo momento já queria mesmo ´estar em outra, ou mesmo curtindo e bebendo com os amigos.
Música de forma óbvia, sustentada pelas bases de teclado de Wright, potencializada e abrilhantada por metais orquestrados. Resultado: esplêndido.

"Fat Old Sun" (Gilmour)

Quem acompanha o trabalho de David Gilmour notou que ele a partir de seu DVD "David Gilmour In Concert" de 2003, incluiu nos setlists esta sua linda canção, que ele felizmente pinçou de volta para tocar.
Música de lindo lirismo instrumental e poético, culminando em um daqueles solos sensacionais com a assinatura David Gilmour.

"Alan's Psychedelic Breakfast" (Gilmour, Mason, Waters e Wright)

Uma das músicas mais curiosas da carreira do Pink Floyd. Chamada por muitos de "A música do café da manhã" e "música do ovo frito", contou com uma série de registros sonoros, captados dos sons produzidos pelo saudoso roadie da banda, Alan Styles tomando seu café pela manhã, subdividida em três partes.
Contudo, "Alan's Psychedelic Breakfast" vai muito além disso, pois traz três pontos fortíssimos que a agigantam em qualidade: um primeiro segmento ao piano de Richard Wright, iniciando uma atmosfera jazzista; um segundo momento trazendo Waters e Gilmour nos inspirando calma e beleza ao som de violão, baixo e guitarra, pura harmonia e tranquilidade; e o fechamento trazendo os quatro floyds, numa jam de perfeita sincronia baixo, bateria, guitarra e piano, mergulhando num prog-rock-jazz de primeiríssima linha, essa parte nos faz ter vontade que a música e o disco não mais termine.

Concluindo:

"Atom Heart Mother" pode ser considerado o álbum mais sereno de toda a carreira do Pink Floyd, com raros momentos de partes muito altas e/ou pesadas, um disco delicioso para se ouvir em n ocasiões, em quaisquer faixas-etárias, são 52 minutos de paz e plenitude.

Ouçam-no através do link:
http://www.youtube.com/playlist?list=PLBC8807214217BB4A

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Texto original na página Confraria Floydstock:
https://www.facebook.com/confrariafloydstock/posts/836634256452814

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