"Campo Grande - cidade rica e pobre"
Dados do IBGE de 2013 mostram que Campo Grande tem um PIB de R$ 20.674.988.000, que a coloca como a 33ª cidade mais rica do Brasil.
Quando se divide esse PIB pela sua população, a renda média anual é de R$ 24.839,24 /hab., que a coloca no 1.022º lugar, menor inclusive que a média nacional de R$ 26.441,76 /hab.
O PIB de Campo Grande tem como sua principal atividade a de serviços que corresponde a 50,68% do total, muito acima da indústria que vem em segundo lugar com 15,06%, ou seja, tão importante quanto andarmos atrás de capitais externos para industrialização, é preciso buscar alternativas para dar mais agregação de valor aos nossos serviços. Mas porque isso não é feito?
Não se faz porque o mundo mudou, saímos da sociedade industrial para a sociedade da informação e do conhecimento, é preciso uma nova economia, uma nova política e um novo modo de governar.
Vivemos agora numa globalização onde a sociedade e a economia funcionam em redes e gerir a sociedade-rede é gerir relações, desenvolver governança.
A tarefa principal de um governo democrático passa a ser promover o desenvolvimento humano no território, a partir da criação, fortalecimento e coordenação das redes econômicas, sociais e culturais.
A principal vantagem econômica de um território é a vantagem colaborativa, depende cada vez mais da coesão social (capital social).
Segundo Carlos Leite em Cidades Sustentáveis, a crise se revela nas cidades pois “A cidade é a pauta: o século XIX foi dos impérios, o século XX, das nações, o século XXI é das cidades”.
Por outro lado, Giuseppe Vacca, do Instituto Gramsci/ Itália, ao analisar a crise atual, diz que “aparentemente, estamos todos de acordo ao afirmar que toda uma época terminou. Mas, quando uma época termina, se não conseguirmos pensá-la com conceitos novos, diferentes daqueles que capturaram a mente de quem a viveu, das duas uma: ou não é verdade que ela terminou, ou quem continua a representá-la com os conceitos do passado talvez não saiba, mas na realidade morreu intelectualmente com ela”.
Esse é o drama atual de Campo Grande, todos concordam que estamos em crise, mas continuamos a representá-la com esses conceitos ultrapassados.
As administrações mais recentes que tiveram sucesso relativo, foram totalmente dependentes de Brasília, porém essa fonte secou, as transferências voluntárias da União caíram de R$ 39 milhões em 2010 para R$ 886 mil em 2013, e não voltarão a curto prazo.
De qualquer forma a gestão provedora, aquela obreira e prestadora de serviços já não funciona mais e não é somente por conta da crise econômica, é porque a população vive em rede e por consequência está antenada, exigente, cobrando transparência e participação. O não entendimento disso implica na desvalorização atual da política à medida em que avança a democracia
Alguns gestores públicos desse mundo global, entendendo as novas demandas, passaram a articular uma nova arte de governar os territórios, cujo objetivo é a organização e ação da sociedade, através da gestão relacional ou de redes, tendo como finalidade o desenvolvimento humano.
“Nesses casos, o papel das prefeituras consiste em ir além de suas competências, sejam elas quais forem, para assumir o desafio das suas cidades. Os recursos dos governos locais não são importantes em si mesmos, mas enquanto instrumentos para aumentar a capacidade das prefeituras convocarem os atores sociais e cidadãos para organizarem os processos de responsabilização cidadã e de parceria público-privada” (Gestão Democrática do Desenvolvimento das Cidade - José M. Pascal Esteves).
“O desafio de uma prefeitura não consiste em tentar achar solução para os recursos que não tem, mas de desenvolver uma ampla ação multidimensional que implique recursos, geração de uma cultura de ação, organização comunitária, colaboração interinstitucional e público-privada para dar uma resposta coletiva, no sentido de que envolve toda a sociedade para a solução dos seus desafios”. (idem).
Em nossos estudos e pesquisas sobre o tema, identificamos que a cidade de Barcelona é precursora desse novo modo de governar, e outras cidades que servem de modelo são as colombianas Bogotá e Medellin, assim como Adelaide e Melbourne, na Austrália.
Aqui no Brasil, experiências bem sucedidas acontecem em Belo Horizonte onde pontos de ônibus e escolas foram construídas e são administradas em parcerias, e em Salvador, onde o Hospital Subúrbio funciona de forma semelhante e mostra resultados de eficiência. Também em Vitória, Curitiba e Recife existem experiências bem sucedidas.
Campo Grande tem o perfil perfeito para a inovação, pelo seu tamanho, urbanização, localização, renda e principalmente pelo seu povo que a despeito da visão estreita da gestão pública, se destaca no cenário nacional em diversas áreas, inclusive no conhecimento e informação.
Engenheiro, especialista em gestão pública, foi secretário de Estado de Planejamento
E-mail: valente@campogrande.net