"Me desculpem, grevistas"
Eu me considero um cidadão humanista, portanto, procuro estar sempre na defesa das políticas sociais.
Agora, por uma questão de consciência, eu preciso buscar justificativa para minha posição favorável às reformas empreendidas pelo governo federal, até porque a maior parte de meus “companheiros” vêm manifestando posição contrária, assim como a grande maioria da população brasileira.
Por conta disso, fui buscar uma pesquisa que havia feito tempos atrás, quando tentava identificar o que levou uma parcela razoável da classe D ascender à classe C na década passada.
Os números não mentem e a minha pesquisa indicava claramente dois fatores preponderantes naquele fenômeno que o governo atribuía fundamentalmente ao Bolsa Família e agregados. Para minha surpresa, o que estava acontecendo era um pleno emprego, fruto do crescimento menor da população e maior do PIB, tendo como consequência a melhoria da renda média, juntamente, mas em menor proporção, aos esforços para o aumento do salário-mínimo acima da inflação.
Minha análise dizia:
“Um estudo de Marcelo Neri (FGV/EPGE) para o período de 1992 a 2007 mostra que a contribuição da Bolsa Família para o crescimento da renda domiciliar per capita no Brasil foi muito pequena, apenas 0,93%.
Segundo esses mesmos estudos de Neri, o aumento do salário-mínimo ao longo dos anos ajudou, mas também não foi o principal fator, pois a parte da previdência social vinculada ao salário-mínimo contribuiu com apenas 6,73% para a elevação da renda, muito mais que oBolsa Família, mas muito menos que os salários definidos pelo mercado de trabalho.
Por outro lado, o próprio Ipea diz que o fator determinante da elevação da renda foi o aumento do salário real dos trabalhadores, responsável por 71,16% do resultado.
Essa grande redução no ritmo de expansão da PIA – População em Idade Ativa – no Brasil explica o aparente mistério de queda do desemprego em um período de modesto crescimento da economia. No último quinquênio (2005/2010), quando a população ativa cresceu apenas 1,2% ao ano, o PIB – Produto Interno Bruto – registrou uma expansão de 4,5% ao ano, nenhum ‘espetáculo de crescimento’, é verdade, mas suficiente para gerar um aumento da demanda de mão de obra bem superior ao baixíssimo crescimento da oferta dessa mesma mão de obra.”
Já nos últimos anos, o PIB brasileiro cresceu 0,5% em 2014, -3,6% em 2015 e -3,8% em 2016; ou seja, considerando a mesma lógica, o desemprego, que era de 6% em 2013, chega hoje a 13,7% da população economicamente ativa e vem acompanhado de forte redução na renda média, com o consequente aumento da pobreza – isto é, muita gente voltando à classe D.
E o que isso tem a ver com “os grevistas”? Acho que tem tudo a ver, pois o governo está tentando criar condições para o Brasil voltar a crescer e, mais que isso, de forma sustentável.
As reformas que aparentemente prejudicam os trabalhadores, na verdade (e aí eu concordo com o senador Cristovam Buarque quando diz que o governo não está sabendo mostrar isso com clareza), são reformas estruturais que a maior parte dos países desenvolvidos fizeram para sair da recessão e que já vêm dando resultado, fazendo-os voltar a crescer.
A crise pela qual estamos atravessando, e aí é consenso entre os analistas consequentes, é fruto do esgotamento da capacidade do Estado de prover toda demanda por recursos, de forma descontrolada e sem limites como vinha acontecendo. E, para agravar, tais demandas vinham sempre acompanhadas de sérias distorções, como privilégios a setores corporativos, instituições inchadas e incompetentes, além da corrupção generalizada.
De alguma forma, essas questões estão sendo atacadas, pelo bem ou pelo mal, e acho que o Brasil vai sair fortalecido do governo Temer, ainda que pragmático/clientelista, sem apoio popular e com diversas acusações.
Não temos outra saída, é preciso crescer para gerar emprego, renda, e praticar políticas sociais sustentáveis, daí o equívoco “dos grevistas”.
Engenheiro, especialista em gestão pública, foi secretário de Estado de Planejamento
E-mail: valente@campogrande.net