Pense globalmente e aja localmente

Frederico Valente

Quarta, 06 De Abril De 2016

Pense globalmente e aja localmente

Pense globalmente e aja localmente

Eng. Frederico Valente
Reflexões sobre a demanda crescente por democracia em um contexto cada vez mais adverso para sua efetivação, composto por sociedades complexas, redes sociais, fortes organizações de classe, religiosas, étnicas, mídias exigentes, etc., mostram que a era da velha política morreu no Brasil e estamos vivendo intensamente a turbulência da transição.
Campo Grande, tanto quanto o Brasil, está no fundo do poço. A cidade vive esse caos da transição.
Vejamos isso numa breve análise da situação atual: Será que alguém confia nos atuais Vereadores? (com raras exceções). Será que alguém tem dúvida de onde saiu o abandono da sinalização e toda a buraqueira de nossas ruas, do porque das centenas de lâmpadas acesas dia e noite e das outras centenas que não acendem? Será que alguém tem dúvida de onde saíram os mosquitos e o caos na saúde? Será que alguém tem dúvida do porquê das obras paralisadas? Será que alguém tem dúvida de onde saiu o caos econômico? E o lixão, e as favelas que haviam sidas quase extintas, e a miséria da periferia, e o desemprego?
É preciso lembrar, relembrar e relembrar e relembrar que tudo isso se deve à má política ou melhor à “Velha Política” que apodreceu e morreu.
Como então construir uma “Nova Política”?
Em primeiro lugar temos que esquecer alguns conceitos que por arcaicos, construíram esse caos. Conceitos do tipo “Governo Legal”, ou seja, gestão centralizada e onipresente que gaste apenas o que recebe nos impostos arrecadados, ou então do tipo “Provedor e Gestor” que trata de fazer obras e mais obras e secundariamente oferecer serviços e manutenção.
A gestão da cidade não é feita apenas pela prefeitura”, a cidade é muito mais que isso, é uma grande máquina que funciona 24 horas por dia, todos os dias do ano.
Essa grande máquina é composta por pequenas engrenagens que hoje funcionam de forma individual e dispersa, e que por isso, a cada dia temos uma com defeito, atrapalhando o funcionamento das demais e da máquina principal.
Que engrenagens são essas? A APAE é uma delas?
Sim, pois tem um orçamento anual, recursos humanos, especialistas, materiais e equipamentos, e presta relevante serviço à comunidade. Não é preciso citar mais exemplos para concluir que existem dezenas de importantes engrenagens públicas e privadas, governamentais e não governamentais, funcionando na cidade.
Que tal se pensássemos em azeitar conjuntamente todas essas engrenagens para melhorar o rendimento da grande máquina? Tarefa difícil que precisa de profunda reflexão, mudança de valores e de costumes, transparência e espirito público, clareza entre público e privado, etc.
E se ao invés de elaboramos o “Orçamento anual da Prefeitura” fizéssemos o “Orçamento anual da Cidade”?
Tarefa difícil, mas não impossível, até porque isso já vem acontecendo com sucesso em diversas cidades mundo afora. Essa novidade tem o nome de “Governança Democrática”, Barcelona como modelo e o espanhol Josep Mª Pascual Esteve como autor dos principais conceitos, que é o de construção coletiva de desenvolvimento de cidades.
Pascual Esteve afirma que “a finalidade da “Governança Democrática” é o desenvolvimento humano, traduzido como democracia, equidade social e desenvolvimento econômico”.... “Uma sociedade educadora dificilmente é compatível com a visão de uma gestão pública distante das preocupações e demandas dos cidadãos (…). A democracia na nova cidade significa descentralização de competências e recursos para os governos locais, para que eles possam (…) inaugurar uma nova forma de governar baseada na gestão de redes cidadãs”
A “Governança Democrática nada mais é que a remontagem da máquina da cidade, de tal forma que cada engrenagem participe do conjunto do processo, desde o planejamento estratégico, passando pelos programas, projetos e ações tático operacionais.
Essa poderia ser a nossa “Nova Política”, aquela em que a cidadania seja exercida em sua plenitude, onde a gestão pública seja participativa, onde cada engrenagem seja parte da grande máquina, não só oferecendo sua força, mas participando do conjunto das decisões maiores e gerais.

Especialista em Gestão Pública, foi Presidente da SANESUL,
Vereador e Secretário de Planejamento do MS

Frederico Valente

Engenheiro, especialista em gestão pública, foi secretário de Estado de Planejamento

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