Marina – Temporal ou Chuvisco

Por Frederico Valente e Fausto Matto Grosso

Politicando

Segunda, 25 De Agosto De 2014 ás 19:31

Marina – Temporal ou Chuvisco

Marina – Temporal ou Chuvisco

Será mesmo forte a ventania Marina Silva? Analistas mais afoitos já dão como certa a eleição dela. Realmente, algumas ondas são incontroláveis, vide Collor em 89, Zeca do PT 98 e o Bernal em 2012. Começam a aparecer pessoas que a rejeitavam, mas em função das novas circunstancias estão revendo posições. A própria Marina ajuda, se colocando de forma diferente, mais paciente e pragmática, sem deixar de ser programática como ela está sempre reafirmando. Particularmente acho que esse cenário tem grande probabilidade de acontecer e cabe ser analisado.
     
Confirmado o temporal, o que passa a preocupar é a capacidade de Marina para liderar o jogo político e ao mesmo tempo efetivar as principais mudanças que precisam ser feitas para o Brasil voltar a trilhar os caminhos do desenvolvimento, iniciado por FHC, continuado por Lula e paralisado por Dilma.
 
Estamos vivendo aquela sensação de que o Brasil até melhorou (mesmo nos momentos de turbulência internacional), mas está caminhando para a estagnação (agora num ambiente de recuperação econômica mundo afora). Essa sensação indica que pode avançar muito mais se houver uma troca geral do comando político que a tempos vem mandando no país e que se esgotou por si só.

Nesse caso volto ao passado recente para uma nova comparação histórica. Itamar Franco foi alçado à presidência com essas mesmas dúvidas, talvez até maiores, pois participava de um projeto que qualquer pessoa mais bem informada sabia o que viria com o homem que “combatia os marajás”.

O acidente que vitimou o Eduardo Campos junto com a eleição de Marina Silva, oferece ao Brasil uma nova oportunidade histórica à semelhança da que foi dada com o impeachment de Collor. Trata-se da possibilidade real da formação de um governo de coalisão, com a participação das forças políticas mais responsáveis do País.

Marina e sua Rede, o PSB e o PPS, formam um tripé que vem mostrando organização, modernidade, e coesão, amplamente demonstrados nesse momento difícil. Todo processo vivido pela coligação, tanto na postura em relação à morte de seu líder maior, como na sua substituição, tem sido coerente e competente.

A família Campos deu o tom através de declarações sensatas do irmão de Eduardo, e de sua esposa, que poderiam aproveitar o clima emocional e oportunisticamente, postular o lugar dele, ou mesmo de vice. Outro ponto forte deles é a proposição de uma “Nova Política” para o Brasil, conteúdo das falas de Eduardo Campos e Marina Silva, e que é o anseio maior da população brasileira, amplamente demonstrado nas manifestações de junho de 2013.

Para isso a nova presidente do Brasil terá que demonstrar capacidade e disposição para negociar com os adversários e com os diferentes setores da oposição e vai precisar de grande competência para convencimento da sociedade a respeito das reformas econômicas e sociais. Em princípio parece uma competência que Marina sozinha não tem e nem Itamar tinha. Em uma coalizão bem articulada Marina poderia dispor do apoio necessário para tanto e enfrentaria uma oposição menos radical facilitando a governabilidade.

Por outro lado existe a preocupação em relação ao que a Marina ambientalista pensa sobre o setor rural. Sobre isso seu vice Beto Albuquerque já começou a trabalhar. Em entrevista ao ser lançado para o cargo disse "Acho que tem muita gente que tem preconceito contra a Marina, talvez porque seja uma mulher, talvez porque seja uma mulher negra, mas sem ouvi-la. Tem muita gente que ouve os outros falarem da Marina e acha que o que o outro diz sobre a Marina é mais importante do que ouvi-la. Quem ouvir a Marina na campanha vai ver que há muitos preconceitos absolutamente despropositados". Ela já disse também que cumpre o programa proposto pelo PSB.

O momento e as circunstâncias são propícios a um governo de coalizão e esse talvez venha a ser o principal legado construído e deixado por Eduardo Campos com a formação da terceira via. Mas Marina terá que entender e tratar cuidadosamente disso ao longo de toda a campanha eleitoral, pois pequenos deslizes podem azedar o clima e por tudo a perder.

Não vai ser tarefa fácil administrar tudo isso, o PT mesmo vai tratorá-la tão logo se confirme seu crescimento, mas o PSDB talvez não o faça, pelo menos foi isso que FHC sugeriu. Vamos acompanhar os acontecimentos.

Frederico Valente é Engenheiro, foi Secretário Nacional de Saneamento.
Fausto Matto Grosso é Engenheiro e professor aposentado da UFMS.

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