A Netflix lançou, em 29 de janeiro deste ano, um documentário contando os bastidores da gravação de um dos singles mais bem-sucedidos de todos os tempos, We Are the World, do super grupo USA for Africa (United Support of Artists for Africa), que contou com a participação de mais de quatro dezenas de artistas, todos no auge de suas carreiras.
A ideia de reunir os artistas partiu de Harry Belafonte, um renomado músico, ativista, pacifista e ator americano, inspirado no sucesso do Live Aid, um megaevento que aconteceu no meio do ano de 1984 na Europa e Estados Unidos, capitaneado por Bob Geldof (BoomTown Rats) e Midge Ure (Visage/Ultravox/Thin Lizzy) e que reuniu grandes artistas dos dois lados do Oceano Atlântico. O Live Aid também tinha como objetivo, arrecadar fundos para a fome na África, principalmente na Etiópia.
Tudo começa em dezembro de 1984, quando Harry e o produtor Ken Kragen se reúnem para discutir um projeto. Logo, o músico e ativista convoca Lionel Richie e Michael Jackson para comporem uma música, com o forte argumento de que vemos os brancos salvando os negros, mas não vemos negros salvando negros.
Lionel fez questão de incluir Quincy Jones, um produtor musical e empresário, que seria o responsável por organizar a gravação da canção. Quincy goza de excelente reputação na música, tendo sido um dos principais mentores das maiores estrelas da música negra americana. Não sem razão, é o produtor do álbum mais vendido de todos os tempos, o “Thriller”, de Michael Jackson.
Liderados por Lionel Richie, as conversas iam acontecendo e os artistas, os maiores nomes da época nos Estados Unidos, foram convidados e a maioria esmagadora aceitava prontamente o convite, principalmente por ter Quincy Jones no comando da produção.
Lionel Richie e Michael Jackson eram os responsáveis pela composição da música e uma das coisas mais bonitas é ver como Michael se dedicou à tarefa junto de Lionel, que cuidava das arregimentações nesse meio tempo e se mostrava um grande líder.
Na época, Lionel tinha acabado de receber o convite para apresentar o AMA – American Music Awards, um importante evento da música norte-americana, noite que acabaria consagrando o próprio cantor, por receber 6 prêmios. Ainda assim, apesar do destaque, ele estava tão envolvido com o We Are the World, que ele só conseguia pensar na gravação.
Outra grande sacada foi usar, justamente, o prêmio, pois garantiria que muitos artistas estariam em Los Angeles e a ideia era gravar logo depois do evento. Imagina a logística de reunir mais de 40 artistas, com agendas lotadíssimas e compromissos inadiáveis? Eles tinham uma única chance de fazer tudo acontecer e tinha que ser naquela noite de 28 de janeiro de 1985.
No dia da gravação, à medida que artistas como Ray Charles, Stevie Wonder, Bruce Springsteen, Cyndi Lauper, Billy Joel, Kim Carnes, Al Jarreau, Smokey Robinson, Tina Turner, Paul Simon, Bob Dylan, Dionne Warwick, Willie Nelson , Steve Perry, Diana Ross, Kenny Rogers, Huey Lewis, Kenny Loggins e Dary Hall chegavam aos estúdios da A&M, em Los Angeles, se agigantavam as proporções do evento.
Para completar o coro, nomes como John Oates, Bette Midler, Dan Aykroyd, Sheila E., The Pointer Sisters, Waylon Jennings, James Ingram, Jeffrey Osborne, Lindsey Buckingham e a família Jackson em peso: LaToya, Tito, Jackie, Marlon e Randy Jackson.
Coube a Quincy Jones a função de colocar todos na mesma sintonia e ele teve a brilhante ideia de convocar Bob Geldof, o idealizador do Live Aid, para contar um pouco sobre a situação na Etiópia, uma vez que ele tinha acabado de chegar de lá. Bob foi cirúrgico e com um pequeno discurso, conseguiu despertar a urgência do projeto e invocar que todos pusessem um sentimento verdadeiro em suas interpretações.
Com tantos artistas juntos, Quincy sabia que poderiam haver problemas, e num lance de esperteza, escreveu um aviso na porta do estúdio: Deixe o seu ego na porta! Um recado para todos.
Prince estava em absoluto sucesso na época e era um artista que todos queriam que participasse. Por conta da rivalidade com Michael Jackson no mercado musical, ele não aceitou o convite, mas ainda assim, enviou uma música, que acabou entrando no álbum que seria lançado depois.
Todos os esforços para resolver os problemas foram empregados e no final das contas, a gravação saiu da forma como precisava, avançando na madrugada do dia 29 de janeiro até por volta das 8h da manhã.
Três meses depois, em março, o single foi lançado e vendeu 20 milhões de cópias, tornando-se o nono maior single físico da história, arrecadando a bagatela de US$ 80 milhões, faturando ainda o Grammy de Canção do Ano.
O projeto USA for Africa existe até hoje e desde o início, já arrecadou mais de US$ 100 milhões em prol dos que sofrem de fome na África.
Certamente, aquela noite mudou o pop para sempre e esta história, agora contada em detalhes, ecoará por toda a eternidade da música mundial.
Fonte: Netflix