Seriam as séries, as nossas novas novelas?

por Misha Gibson, que escreveu este texto faz tempo

171 Todo Dia

Quinta, 09 De Janeiro De 2020 ás 06:00

Seriam as séries, as nossas novas novelas?

Seriam as séries, as nossas novas novelas?

Estou assistindo Lúcifer, se é que te interessa.
Não, ainda não consegui assistir Game of Thrones, apesar de eu ter quase todas as temporadas em DVD (sim, eu sou velha). Fazia tempos que eu não assistia uma série assim, loucamente e viciadamente.

Ah, o ator que representa o demo, Tom Ellis, é sim, lindo. Mas, não sei exatamente se foi ele que me convenceu a assistir a série. Também não acho que seja a trama policial/romântica, porque já a vimos em uma infinidade de outros filmes, seriados e afins. De verdade, gosto da temática, da inversão do bem e do mal, do sabor palatável de achar que o senhor das trevas pode ser bom. Gosto da desconstrução. Gosto demais também da trilha sonora. Espetacular.

Mas, desde que assisti Sense8, devo dizer, meu paladar para séries ficou um tanto estragado. O início de Lúcifer não me pegou (e eu achava que nem fosse pegar) porque achei em Sense8 a minha série favorita; e nada se compara ao seu favorito. Quando assisti o episódio final da série, fiquei sentimental. Não queria dizer adeus às personagens. Foi difícil querer assistir alguma outra coisa, e mesmo assim, estou assistindo outra.

Queria entender esse nosso novo fascínio por séries. Elas sempre existiram, pelo menos para a nossa geração. Crescemos assistindo seja Alf - o ETeimoso ou Star Trek, ou Miami Vice, ou Chips (nossa, lembra disso?). Mas, eu não lembro de ficar desesperada até o próximo capítulo. Talvez decepcionada, quando reprisavam ao invés de exibirem novos. Mas, agonia? Agonia só agora. Estamos mais imediatistas, mais ansiosos, menos pacientes, sim. Mas, até para o que nos diverte? Quanto estresse...

Por exemplo, tenho que esperar a nova temporada de Lúcifer agora. Até lá, arranjo outra para ver? Ou espero? Não assistir nada novo não é garantia de que eu vá lembrar os últimos acontecimentos de Lúcifer, então acho que não há necessidade de culpa, não é mesmo?

Então comecei outra e mais outra e mais outra.... E, mais ultimamente, viciei em outra. Estou sofrendo crises de insônia. Estou desejando loucamente que novembro chegue logo. Aí quando dou por mim, já é meia-noite, uma hora da manhã ou o último episódio, mas nunca é o dia da estréia do filme da série.

Downton Abbey é cheia de intrigas, fofocas e alguma história. É engraçado notar como alguns cenários são magníficos e como outros são totalmente falsos. As trincheiras da primeira guerra deveriam ser pelo menos filmadas em outro ângulo, um que não desse a impressão de estarem em um galpão cenográfico. Os relacionamentos são menos apelativos, existe muito pouca carne exposta mas muitos apertos de mãos, e beijos de boca fechada ocasionais. O que me faz pensar que entendo porque os casamentos daquela época duravam mais. Era necessário mais do que paixão para manter um relacionamento.

Não é só a limitação de contato corporal que me chamou a atenção. Mesmo porque em dado momento eles também abordam o tema. Afinal, para sermos felizes é necessário discutir todos os aspectos de uma relação. Não acho que isso seja imoral, nem que seja ruim. É apenas uma questão de curiosidade e de afinidade. As longas conversas sobre a vida, posições políticas e até mesmo sobre a importância de se conhecer o parceiro sexualmente fazem sentido numa época e em uma sociedade em que as coisas eram mais recatadas, por assim dizer.

Mas, o que mais me impressionou nesta série é o passar do tempo e suas mudanças. Que sejamos como essas personagens e abracemos as mudanças de corpo e alma. Os criadores da série com certeza pensaram nisso. O início do século passado foi repleto em mudanças. O mundo como o conhecemos hoje deve a sua alma ao século XX. As fábricas e o comércio, e com eles o estilo de vida, os costumes, o vestuário, mudaram para sempre quem somos. E depois a guerra. Tudo contribuiu para nosso mundo atual.

Mudanças são o que nos impulsionam e o que nos salvam. Novela ou não, a arte sempre sobreporá a vida, porque a vida mesmo não basta, como diz Ferreira Gullar.


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