Costumo dizer que as informações sobre água até a década de 70, eram patrimônio exclusivo do “Setor Elétrico”. Com o advento “Meio Ambiente”, este setor passou a estudar os recursos hídricos mais profundamente e com um olhar de preservação. Agora, no Brasil, o “Setor Produtivo” começa a acordar para a importância da água na segurança e principalmente no aumento da produtividade das nossas safras agrícolas e mesmo da pecuária através da melhoria das pastagens.
A irrigação trás junto com o “molhar as plantas”, a possibilidade de usando novas tecnologias agregadas, multiplicar por três a produção agrícola. Nesse sentido alguns estados saíram na frente e já começam a colher resultados. O presidente do Clube da Irrigação do Rio Grande do Sul “
http://www.clubedairrigacao.com.br/“, João Telles, comemora os bons resultados com o uso da tecnologia. Diz ele: “Essa é a quarta safra do Clube e o nosso desafio esse ano era superar 300 sacas por hectare. É um trabalho de toda uma equipe. Conseguimos com o milho e o nosso próximo desafio é 120 sacas por hectare de soja”.
A região Centro Oeste desperdiça recursos federais da monta de R$ 200 milhões anuais, que deveriam ser aplicados em irrigação, por absoluta falta de projetos viáveis e factíveis. A Constituição de 1988 prevê em seu “Artigo 42” que 20% de todos os recursos federais previstos para irrigação, devem ser destinados à região Centro Oeste. Esse artigo valeu por 25 anos e agora foi prorrogado por mais 10 anos.
E Brasília onde passei um tempo como diretor no Ministério da Integração Nacional, por vários anos tive que justificar ao Tribunal de Contas da União os motivos da não aplicação desses recursos. Retornando, me dispus a criar condições favoráveis para nosso Estado buscar esses recursos, articulando para isso a elaboração de um Plano de Irrigação em Bacias Hidrográficas, que apelidamos de PIBH MS, o que foi possível porque o Governo do Estado comprou a ideia e o Ministério da Integração ofereceu o apoio financeiro necessário.
Trabalhando com o conceito de “sustentabilidade”, o foco dos estudos é o de aumentar a disponibilidade de água, pois “O PIBH-MS é um Plano que mais do que a irrigação abrange a Agricultura Irrigada (Uso e Conservação da Água pelos Agricultores) e desde o início da sua concepção é também um sistema de gestão e governança, uma ferramenta para o dia a dia de seus usuários. PIBH-MS pode significar tanto Irrigação nas Bacias Hidrográficas, quanto ‘PIB Hídrico’, assumindo a perspectiva do valor agregado pelo uso da água, sua conservação e sua função para o desenvolvimento”. (
http://www.pibh-ms.coop.br/).
A perspectiva está no potencial de triplicar a produção agrícola e a disponibilidade de água, sem desmatar e, em parte, sem necessidade imediata de grandes obras de engenharia.
Dos quase 36 milhões de hectares do Mato Grosso do Sul, praticamente 50% estão incorporados à agropecuária, sendo menos de 9% (3M) para a agricultura, mais de 16% para pastagens produtivas (6M) e, 25% por pastagens degradadas (9M). As áreas de pastagens degradadas, especialmente aquelas com capacidade de retenção de água, são potenciais para o uso da irrigação.
Além disso, alguns estudos e pesquisas demonstram a real possibilidade de viabilização de uma terceira safra ao longo do ano, uma vez que o uso da irrigação permitiria a antecipação do plantio da soja e consequentemente da “safrinha de milho” que inclusive fugiria dos riscos das geadas, abrindo um tempo para essa terceira safra anual.
O formato do PIBH MS prevê a organização de “Territórios de Irrigação” que mais que uma área física é a articulação de produtores de uma mesma sub bacia, na busca de soluções conjuntas para viabilização dos projetos de uso múltiplo da água, na busca de melhores resultados econômicos, sustentáveis e seguros.
Cada “Território de Irrigação” seria objeto de estudos e projetos específicos, tanto no que se refere à organização dos produtores, como na busca de recursos públicos (constitucionais) para a infraestrutura comum (estradas, energia, açudes, etc). Além disso, a questão ambiental e a outorga da água também seriam tratadas em conjunto, uma vez que compõe uma mesma sub bacia. Por fim os financiamentos também podem ser objetos de um projeto comum.
São vantagens competitivas que já estão em curso tanto no Rio Grande do Sul como em Minas Gerias onde os Planos de Irrigação já foram elaborados e estão em fase de implantação.