08/06/2018

por Misha Gibson, em um dia cinzento

171 Todo Dia

Terça, 19 De Junho De 2018 ás 06:00

08/06/2018

08/06/2018

Muita coisa aconteceu neste dia que me marcou de uma forma triste. E eu preciso muito falar, pra não explodir de dor.

Meu dia começou normal, com as coisas normais de um dia normal. Mas, ele deixou de ser normal quando li a notícia de que um dos meus chefs ídolos, Anthony Bourdain, havia morrido. Assim, logo cedo. O susto foi tanto que eu pulei na cadeira.

Eu não estou preparada para a morte. Nem para a minha, nem para as pessoas que eu admiro e/ou amo. Anthony Bourdain saiu da lista 'muito odiado' para 'muito amado' quando eu entendi seu jeito despojado, seus modos educados tipo ogro. Mas, depois que eu entendi que ele era apenas sincero, passei a amá-lo. Seu modo ogro nada mais era que a sua armadura, a sua casca grossa protegendo o seu ser frágil e delicado. A notícia de sua morte me desarmou e me derrubou logo cedo. Fiquei devastada ao descobrir que foi da pior maneira possível, perdendo a batalha contra a depressão. Ninguém consegue dizer quais são os demônios que se escondem nas gavetas de outrem. Isso ligou um sinal de alerta em mim neste dia...

Mais tarde soube do falecimento da grande Maria Esther Bueno. Eu, que tive aulas de tênis na infância e que sou fã incondicional do Guga - que é fã incondicional de Maria Esther Bueno, só soube do nome dela alguns muitos anos depois que parei com as aulas. No entanto, eu a admirava imensamente e seu jeito tranquilo, discreto e elegante sempre me impactava positivamente. Saber que ela teve uma luta contra um câncer e que foi elegante até o fim também me deixou devastada. Mais. Chorei pela segunda vez.

E aí, quase no fim do dia, eu terminei de assistir o episódio final de sense 8, uma das minhas séries favoritas de todos os tempos. Eu poderia dizer com facilidade que o que me fez gostar mais da série foi a tenacidade dos autores para falar sobre diversidade, ou a fotografia belíssima, ou a engenhosidade das ações. Só que o que realmente me pegou foram diálogos incríveis, frases bem elaboradas e as pessoas para mostrar a verdade do discurso. E não importa que o último episódio não tenha sido tão bom, não importa que o resumo tenha sido rápido demais, nem que tudo acabou num discurso pró-diversidade. No final das contas, vou sentir falta dos personagens, dos diálogos poéticos e da esperança de viver em um mundo mais equalitário.

E aí me ocorreu que me senti tremendamente sozinha. Me senti como um dos personagens desse seriado que tanto admiro. Me senti sozinha, diferente e excluída do mundo. E lembrei de todas essas coisas tristes desse dia. Me coloquei no lugar do cozinheiro, da tenista, no meu próprio e chorei sem saber o número de vezes que já tinha chorado antes. Queria poder ser um sensate, contar com pessoas incondicionalmente, sem julgamentos, com entendimento perfeito.

Me senti sozinha, desajeitada, incompetente, inadequada, sem valor. E embora eu tenha o entendimento de que muito disso era uma depressão escondida em forma de monstro, eu não consegui evitar pensar nisso. Muito menos consegui evitar escutar 'What´s up' algumas dezenas de vezes. Fiquei deprimida. Queria dizer que o futuro encerra uma cena de final de série: otimista, com o amor/bem vencendo. Queria dizer que não precisamos falar de inclusão, nem de diversidade. Queria dizer que depressão é apenas uma doença com cura. A realidade não é nada parecida com o que queremos escrever.



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