por Misha Gibson, que ama o extraordinário
Terça, 09 De Janeiro De 2018 ás 06:00
Desde 'As Vantagens de Ser Invisível' ('The Perks of Being a Wallflower', 2012, Stephen Chbosky), sigo encantada com este diretor. Assisti As Vantagens... despretensiosamente e fui tomada de surpresa pela densidade e nuances do filme. Meu interesse aumentou quando soube que o diretor também escreveu a história.
Em meio ao furor de assistir o novo Star Wars, descobri que 'Extraordinário' ('Wonder', 2017) é o novo filme do Chbosky. Já tinha referências boas do filme: 'é um bom filme para assistir com crianças'. Nem precisavam me falar isso para eu querer ver o filme, se me falassem do diretor.
A história de um garotinho diferente, marcado pelas cirurgias e luta para sobreviver não é tão inusitada no cinema. Então, não é de se estranhar que o filme não teve a repercussão que merece. Mas, eu preciso te contar que o filme não é sobre as dores das cirurgias, nem é sobre bullying de ser diferente. O filme é sobre como lidar sendo diferente.
E, muito se engana quem pensa que o filme foca no garoto, no perrengue que é estar na escola e em como as pessoas podem ser más. É claro que tudo isso aparece, mas também aparece muito mais que isso. Não é a visão do garoto só. É a visão de todas as pessoas ao redor dele, das pessoas que o apoiam como das pessoas que o discriminam.
O mais importante é que o filme fala sobre compaixão, sobre não sentir pena de si mesmo e sobre a normalidade que é se ter apreensões parentais. E ele é tão franco que chega a doer. Assistindo o filme, me senti mãe, filha, caçula, criança, boa e má, sensata e louca, mesquinha e generosa. Mas, acima de tudo, me senti mais alerta, mais observadora, mais pensativa. Eu sei, as vezes estar alerta é tão mais doloroso do que ser ignorante; deve haver alguma beleza nesta dor, ou então deve haver o hábito da dor e o não saber mais que a dor existe.
E fiquei também feliz, ao findar o filme, ouvir meu pequeno dizer que todo mundo é diferente. E doeu um pouquinho também que a constatação de ser diferente significar que é estar sozinho.
Nunca o 'bittersweet' fez tanto sentido para mim. Nem o extraordinário.
Três amigos se revezando, a cada semana, para mostrar o cotidiano de um jeito absolutamente normal.
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