Luxo

por Misha Gibson, que ainda duvida muito

171 Todo Dia

Terça, 14 De Novembro De 2017 ás 06:00

Luxo

Luxo

Hoje fiquei pensando no modo em que as pessoas vivem. Não no sentido de luxo ou pobreza, mas como cada um encara a sua parcela de dias seguidos. Eu sempre pensei que eu fosse uma pessoa de livro aberto, de coragem para abraçar o que quer que aparecesse para viver. Ou, pelo menos, era isso o que eu queria acreditar e fazer as pessoas acreditarem.

Eu não quero ser uma pessoa que fica esperando a morte, olhando a vida passar. Será que eu vivo a minha vida assim? Esperando pelo dia seguinte?

Eu estava passando os olhos nas notícias de um site qualquer e me deparei com uma matéria de relacionamentos: 'Dá para manter amizade após o namoro?'... Primeiro eu pensei em quantas vezes já li esse tipo de coisa e quantas vezes ainda vou ler. E pensei no que eu ganhei e perdi nos relacionamentos que tive. E como eu gostaria de ter algumas dessas pessoas especiais compartilhando da minha vida hoje. E como eu gostaria que alguns deles fossem para o inferno. Ah, sim, eu não sou zen. Eu tenho meus demônios e também me arrependo de coisas que fiz.

Lembro de uma vez que eu contei o que estava vivendo para o cara que eu gostava, de como as coisas tinham mudado e de como apesar de tudo eu tinha esperança de que as coisas mudassem mais. E eu estava feliz de estar conversando, com esperanças do que poderia vir, mas acima de tudo, de ter um amigo. E agora, revendo a situação, compreendo que ele estava testando o que sentia. E eu sinto um misto de coisas que não sei explicar porque ele está longe, embora esteja aqui perto. E eu fico imaginando o que as minhas atitudes significam nesta situação: eu fiquei esperando a vida acontecer ou eu eu fiz alguma coisa a respeito do que me era apresentado? Eu devia ter feito alguma outra coisa, ou foi apenas como o destino se apresentou? Eu escolhi ou fui preterida?

Além disso, eu fico vendo pessoas que já tem uma certa idade e não fazem absolutamente nada para ter uma vida diferente. Nada. Não experimentam nada, não fazem nada além da sua rotina, não pretendem nada além de assistir tv e esperar pelo dia seguinte, se ele virá ou para fazer tudo igual de novo. Não querem viajar, não querem se sentir melhor, nem querem melhorar o corpo ou a mente, nem querem parecer melhor. Só querem a mesmice. Isso é resignação ou é paz de espírito?

Tem gente que se deixa levar pela idade que tem, deixa de fazer o que quer porque tem a idade do ridículo. E deixa de fazer coisas importantes para si mesma, como se estivesse fadada a sofrer. Será que eu deixei de fazer alguma coisa porque eu estava esperando o dia seguinte, ou será que eu não fiz porque não era realmente o tempo de acontecer? Será que algum dia eu deixei de fazer alguma coisa porque fiquei pensando o que falariam ou pensariam de mim?

Acho que eu já deixei de fazer coisas por me sentir cansada demais. Dá preguiça passar por algumas coisas de novo. Por exemplo, eu fico cansada de pensar em voltar a fazer faculdade ou especialização. Será que algum interesse meu tem força e foco suficientes para ser um curso em algum lugar? Mas, talvez o que me paralise nestas situações não seja de verdade o cansaço, mas o medo. O medo de o esforço não valer a pena.

Eu acho que no auge nos meus -enta anos, eu ainda tenho muito o que ver e viver. Não quero ficar parada e tenho medo de morrer em vida. Espero que um dia as minhas dúvidas de como vivi a minha vida sejam dirimidas, e eu possa ser capaz de chegar a conclusão de que minha vida foi o livro aberto, e que eu fui a pessoa corajosa de abraçar tudo o que apareceu para ser vivido, que eu sempre imaginei ser.


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