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Um rato ou um homem? Um menino ou um homem?
O que faz um menino se tornar um homem?

Essas perguntas sempre me assombraram para que eu pudesse entender como eu mesma funciono. Fazendo uma auto-análise, acho que minha adolescência ainda não acabou: ainda me pergunto constantemente o que me define, o que me atrai e o que me move. Como é que é ter certeza sobre essas coisas?

Esses dias assisti a um filme chamado Sing Street. Como você pode imaginar, é um filme permeado de canções. Acho que o meu gostar deste tipo de filme vem da própria temática do filme. Sou cria dos bons tempos de MTV, clipes de música ainda me prendem a atenção. Mas, o que me marcou do filme não foi bem as músicas - embora muito interessantes. A pergunta do título deste texto surgiu no exato momento em que há uma postura diferente das personagens. Foi um choque.

Adolescência é uma coisa complicada. Mudamos constantemente, tentamos nos definir por aquilo que nos rodeia. Será que o que os jovens de hoje passam é diferente do que passamos antes?

Eu sinto ainda que não amadureci de todo. Pareço uma manga que ficou com uma parte exposta ao sol e outra parte à sombra. Por um lado me sinto uma velhinha, sentadinha na cadeira de balanço, com cobertorzinho nas pernas. Por outro lado, me sinto uma criança de 5 anos que ganha a rua pela primeira vez. O que me espera do lado de fora? Mas, aí, eu me lembrei que sou adulta. Ou pelo menos as pessoas assim me julgam. E já não posso me dar ao luxo de parar para pensar o que faz uma menina se tornar uma mulher.

Aliás, falando de menina se tornando mulher, podemos ver como somos estereotipadas. Para as meninas parece tudo ser muito prático: ela se torna mulher quando menstrua. Quando dá a primeira vez, quando arranja o primeiro namorado. Quando deixa de brincar de boneca. Quando começa a usar salto alto. Quando tem filho. Sinto muito. Não foi assim que aconteceu para mim.

Aconteceu para mim quando eu assisti esse filme que eu comentei. E tenho certeza disso porque eu me perguntei o que faz um menino se tornar um homem. Porque eu quero saber como é que o meu filho vai passar por esta transição e como eu temo por ele quando isso acontecer. Temo que ele perca o deslumbramento da infância, temo que ele vire um adulto desgostoso, que ele veja sempre o lado ruim de tudo. Eu temo que ele permaneça imaturo, que ele não saiba se colocar em seu lugar no mundo, que ele sofra por ser quem é.

O fato é que para sermos homens e mulheres é necessário ter consciência de nós mesmos. Consciência do impacto que causamos a nossa volta, do que queremos e do que podemos fazer. É só com essa consciência que podemos entender que o que somos não pode nos causar dor, não pode nos entristecer. É só tendo certeza do que queremos e do que podemos é que podemos utilizar esta certeza para nos impulsionar para efetivamente ser. Talvez o que faz um menino se tornar um homem é a segurança de estar bem debaixo da própria pele.